quinta-feira, 17 de abril de 2008

Tótens e Tabús

Existe um mito de que toda sociedade em processo de formação passa pela necessidade de que há de se elevarem alguns tótens, para se prosseguir em sua organização material.

Penso que este mito começa a se repetir - ou seja, como afirmam alguns historiadores - a história é cíclica. Porém, como sempre, ela não se repete: a história dos motoboys está apenas começando. Agora eles desejam outra coisa, contar sua história a partir de suas experiências. Permear o caminho do poder-se organizar a partir de suas representações. Assim, vemos que o momento é marcado por um "movimento" ainda não bem definido, que, como já afirmei anteriormente, seria o movimento dos motoboys.

Para além das aparentes iniciativas do Poder Público para Regulamentar a profissão, inerte sob um manto de dúvidas, os principais atores deste movimento , se perguntam como atrair os motoboys para o marco da Regulamentação. Se a Categoria resiste; como é óbvio de se pensar, ao verem-se recusados pelos motociclistas que não querem se regulamentar, os sindicalistas e governantes interpretam isto como algo que fosse de parte da ignorância dos profissionais. Claro está que reconhecem o trabalho da nova diretoria, porém, qual a real vantagem em estar credenciado para fazer um trabalho, que tanto faz, fazem do mesmo modo sem o Cadastro da Prefeitura.

Isso, sem falar na falta quase total de comunicação entre os governantes e a Categoria (e no entanto, foram vistos pencas de cartazes de convocação feitas pela Prefeitura, oferecendo Cursos de Motofrete grátis, sabem onde? Nos ônibus!)

Talvez, o mentor desta belíssima idéia tenha pensado em mandar mais alguns cidadãos e operários a fazer o curso, e neste caso, acabavam com as lotações dos transporte público - mas, isso é só um comentário - vamos ao que interessa.

Até o momento, a Prefeitura recebeu apenas em torno de 4.000 cadastros para o motofrete. O Secretário, ofereceu cursos para 10.000 profissionais motociclistas.
Isso, pese toda a experiência que a máquina governamental já tenha acumulado, com as outras iniciativas das gestões anteriores em regulamentar e enquadrar a Categoria. Ora, o intuito puro e simples de seduzir os motociclistas com estes procedimento, não põem abaixo a desconfiança generalizada por parte da Categoria, em perceber o processo regulatório como uma forma a mais de perdas em suas rendas. Isto está claro, quando temos centenas de empresas que não moveram um centímetro seguer para se cadastrar. Mesmo que agora seja lei: mas se agem assim, é por que vêem nos próprios motoboys uma recusa inerente ao próprio modo de produção da nossa profissão.

A imagem negativa: é sempre do outro, o outro é que perde-se nas artimanhas do trânsito cruel e denigre a coletividade com atitudes violentas e irresponsáveis, é isso o que pensam todos - mas quando estamos no limite, "enrolando o cabo", como podemos ser o responsável por nossos atos, se parte desta causa é o próprio trabalho que - construído por outros, sejam eles, patrões ou clientes - nos jogam nessas armadilhas cotidianas.

Penso que sobre tudo isso, sejam fontes de uma especificidade que cada profissional motociclistas intuitivamente reconhece como sua, e incompreendido, deixa-se levar pelas boas ações alheias : - Preciso ser ajudado, mas eu faço tudo sózinho, venço o trânsito, ganho do relógio e chego a tempo!

Do mesmo modo que o motociclista se acha insuperável - e caso sofra um "acidente", ai sim, ele dá conta da sua fragilidade. Já os nossos representantes tendem a pensar como donos de todo o processo histórico, por que claro, entendem que a Categoria tem um lugar na Pólis, claro, mas ao falar em nome da Categoria, traduzem esta fala como se fosse uníssona, resultante apenas da sua própria visão e vontade - eis o tótem. Criar seu Símbolo (o "Brasão", a "bandeira") é apenas o desdobramento natural deste processo - "controlar a massa", eis a missão. Ou calar, diante do desconhecido.

Quando pensamos que a Categoria não é nada disso. Que para a vida da Cidade ela tem um outro significado - e, porque não, dizer que para a economia do país ela tem lá seu gradiente também representado.

Então, temos que admitir que um organismo vivo com tantas funções não precisa de uma única cabeça pensante, mas confiar que em suas várias faces ela traduz um conceito de trabalho para a Política? Não seria um tabú, isso de não tocar no dedo da ferida, de dizer que engana-se, quem pensa que esta Categoria tem um único e legitimo representante. Podemos confiar, em nossos guias, nos perguntamos?

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Coletivo Canal Motoboy