quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sarau 3ª Semana de Cultura Motoboy

Relato II Eu sempre penso que uma empresa de motoboy funciona como uma família. E deve. Se não há uma certa irmandade, em torno do trabalho, não vai. Nesta quarta, quando estive na Translig, percebi isso mais uma vez. Há uma preocupação constante de que todos estejam bem. Não pude contar com a Kátia, a empresária proprietária, mas ela deixou uma pessoa de confiança e com experiência em lidar com um contexto de aprendizagem, como seria nossa oficina, o Tiago. Não pudemos também contar com todos os motoboys. A semana vai ficando pequena, quando chega na quarta, a clientela começa mais cedo a fazer os pedidos e as OS’s vão saindo com os motoboys. Tiago e eu sentamos em roda com os motociclistas. Em sua mão havia uma pequena lista de palavras anotadas em um papel. Há caneta, ele anotara as seguintes palavras-chaves: - Ação Educativa - Ameaça - Confraternização - Entrevista - Cultura - Corredor - Dia-a-dia - Confusão - Alimentação - Bairros - Abordagem - Acidente Estas palavras, que ele escolhera aleatória-mente na página da Internet do canal*MOTOBOY, seriam nossos pontos de partida, para mais um jogo, na roda de conversa, formada pelos funcionários, Ederson, Amadeu, Danilo, Marcos, Tiago e o Celso. Sobre o Tiago fiquei sabendo que estudou logística e agora estudava finanças. Era a primeira experiência trabalhando com os motoboys, mas achava perfeitamente normal o trabalho, até mesmo gratificante. Percebi que todos o tratavam com muita simpatia, claro, afinal ele não é responsável pelo contra-cheque? Mas, brincadeiras à parte. Quando percebemos depois como pudemos curtir e aprender ao mesmo tempo, sobre as pessoas, e sobre o dia-a-dia numa empresa de motoboy. Confesso, minha fala já não tinha mais aquele tom professoral, do primeiro encontro, e quando me vi falando sobre os acidentes que também havia sofrido voltei por um momento a um sentimento antigo, dos anos que passamos numa empresa de motoboy. Danilo escolhera a palavra Dia-a-dia. “Com certeza”, disse ele, sobre sua escolha. Era uma palavra óbvia, segundo ele dizia tudo sobre o stress, fechadas e confusão, que passamos nos momentos que estamos no tráfego. “Uma luta, todo dia”, concluiu, enquanto que um torcia o punho, mostrando como teve que se defender no corredor. Enrolando o cabo na Av. Rebouças, lembrei dos dois retrovisores que levei certa vez, por que o doido do motorista vinha com a orelha no celular e quase causou um acidente, me prensando, tipo como os motoboys dizem, “fui Ninja”, levei dois, os plásticos despregaram dos carros como nada voando pelo asfalto a minha frente. Mas contive minhas lembranças, não comentei também a atitude de nenhum deles. Como na noite anterior eu havia me preparado muito bem, e uma das coisas mais importantes, que tive que decidir foi não intervir muito na conversa e tentar deixar os motocas falarem e interagirem. Em muitos pontos eles tem razão, em outras, há alternativas, que são mais inteligentes, como manter uma boa direção defensiva no trânsito, e deixar a emoção de lado. A emoção de andar de moto já é o bastante, prazer que ninguém nos tirará. Neste momento o Marcos voltara com outra comanda do balcão. Outro motoboy zarpava. A mesa na área dos motoboys ia ficando sem motoboys, restavam agora três, os outros tantos, agora já tavam no batente. Alguns, que tem contrato, não costumam ficar na empresa, e nosso trabalho continua, independente, sem pressa, sem demora. Pedia aos motociclistas que falassem sobre as imagens que lhes ocorriam, quando eles pensavam nas palavras-chave. Eles traziam um leque de imagens, que remetiam ao banco de imagens do site dos motoboys. Pautei mais uma vez qual era nosso objetivo. Falei um pouco sobre o que rolou nas primeira e segunda Semana de Cultura Motoboy. O que é esta cultura? Amadeu que escolhera falar sobre “bairro”, sorriu e bateu as mãos na mesa de felicidade. “Manda! – Disse ele. Um motoboy saiu empurrado pela cozinha da empresa, já não sabia se ficava na conversa, que esquentava, ou se vazava logo para atender um chamado. Amadeu com uma palma da mão aberta ia falando, Alphaville, Osasco, Tatuapé. Contava nos dedos os pontos que somaria até o final do mês. É nesta hora que toda a confusão acaba na cabeça da gente. Como se fosse evidente e natural, ficamos falando sobre nossas competências. – “Você sabia que os motoboys tem habilidades e competências?”, disse ao rapaz do financeiro, quando saí 10h de lá, ainda no portão. Uma árvore na calçada ofertava uma sombra bastante agradável, na porta da empresa. Missão cumprida. Ia correr agora para a Ação Educativa. A 3ª Semana de Cultura Motoboy estava saindo do forno, eu precisava pegar o “corredor”, subir a Av. Rebouças e Consolação. Era um dia importe. Fizera novos amigos e não é todo dia que isto acontece. Amanhã eles escolherão um tema?

Nenhum comentário:

canal*MOTOBOY

canal*MOTOBOY
Coletivo Canal Motoboy